Entrevista realizada por Maria Adelaide Guilherme Souza.

Jus Fernandes Embassá, 26 anos, é um típico africano: negro, alto e bonito. Estudante de enfermagem, há 15 meses no Brasil, apaixonado por seu país, revela seu maior sonho: contribuir, juntamente com seus compatriotas que aqui estudam, para o desenvolvimento econômico de seu país, Guiné-Bissau.

Adelaide: Olá, Jus! Seu nome é bonito. Qual a origem dele?

Jus: Primeiro boa tarde, muito obrigado pela oportunidade de fazer uma entrevista com você. Meu nome “Jus” é de origem portuguesa. Quando meu pai estava fazendo direito se inspirou na palavra “justiça” e colocou esse nome em mim.

Adelaide: Uma das coisas mais ricas de um país é a culinária. Qual a comida típica de Guiné Bissau?

Jus: Bom de comida eu não entendo muito bem, mas tem o caldo de xebel que pode ser feito com carne ou com peixe e é bastante popular porque é gostoso e natural.

Adelaide: Os ritmos africanos influenciaram bastante a cultura brasileira. Qual é o ritmo que quando se toca ninguém fica parado em Guiné Bissau?

Jus: É a música gumbé.

Adelaide: Você gosta de música brasileira?

Jus: Sim.

Adelaide: Que tipo?

Jus: Gosto muito da música e do ritmo do “Diante do Trono”, um grupo que canta músicas Evangélicas.

Adelaide: E música popular você gosta de quê?Axé, forró, sertanejo?

Jus: Desse tipo gosto mais de banda Calipso, porque tem uma maneira, uma forma de fazer solo que é quase universal. Parece muito com o ritmo de meu país.

Adelaide: Você pratica algum esporte?

Jus: Pratico e adoro o futebol! O povo de Guiné Bissau adora!

Adelaide: É febre?

Jus: É febre! (risos).

Adelaide: Falando em política, como é o sistema de governo guineense?

Jus: É democrático. Ocorre eleições diretas de quatro em quatro anos, eleições presidenciais e legislativas.

Adelaide: Qual a religião predominante em Guiné Bissau?

Jus: Guiné Bissau é um pais livre, tem a existência de todas as religiões e também há liberdade para se fazer evangelizações. Há paises na África que não é permitido nem ao menos tu andar com a Bíblia na mão na rua. Guiné Bissau é predominantemente católico seguido de evangélicos e mulçumanos. Essas três religiões são as que tem mais destaque.

Adelaide: Há alguma data comemorativa que seja relacionada diretamente com a identidade do povo guineense?

Jus: Pois è, tem, é a data da nossa Independência. Em 24 de setembro de 1974 se deu a Proclamação da Independência de Guiné Bissau.

Adelaide: Conta um pouco sobre o carnaval de seu país.

Jus: O carnaval em Guiné Bissau é universal, mais ou menos na mesma data que é aqui no Brasil. Tem fantasias e blocos.

Adelaide: Se eu fosse à Guiné Bissau que ponto turístico eu não poderia deixar de visitar?

Jus: Ilha de Bubaque, uma ilha WWW e interessante da América, Europa em outros lugares do mundo e temos ainda a capital que tem uma praia que fica a 60 quilômetros tipo ilha mas que tem uma fronteira vizinha.Aquarela também é um ponto turístico.

Adelaide: O que tem em Guiné Bissau que você ainda não viu no Brasil?

Jus: Ilhas. Em Guiné Bissau temos mais de 60 ilhas e aqui no Brasil não vi nenhuma.

Adelaide: É, apesar de haver bastantes ilhas em toda a costa brasileira, não chegam a ser tantas assim.

Jus: E em Guiné Bissau são ilhas bem grandes, bem grandes, em cada ilha tem praia e casas de praia.

Adelaide: Qual lugar que você foi aqui no Brasil, achou muito bonito mas que não tem em Guiné Bissau?

Jus: Essa pergunta é muito importante!Quando cheguei aqui o primeiro lugar em que eu fui foi no Shopping Benfica. Em Guiné Bissau não tivemos a oportunidade de construir um shopping e o nosso grupo que veio estudar aqui temos essa intenção de construir um o mais rápido possível. Esse é o meu maior orgulho de fazer lá o que eu vi aqui e que não tem lá.

Adelaide: Falando em economia, qual é a moeda utilizada em Guiné Bissau?

Jus: É o franco Cefa da comunidade financeira africana.

Adelaide: Como é o câmbio em relação ao dólar ou ao real?

Jus: Bom, esse câmbio é muito complicado: primeiro tu passa de franco pra dólar e depois de dólar pra reais, então é muito difícil, ainda mais agora que o dólar está variando muito. Mas pra tu comprar um objeto, uma moto por exemplo é muito mais barato lá do que aqui. Se com cinco mil reais tu compra uma moto aqui, lá tu compra duas com o mesmo valor, as ligações telefônicas de lá pra cá também são bem mais baratas que ligar daqui pra lá.

Adelaide: Qual foi o teu primeiro contato com a língua portuguesa?

Jus: Eu comecei a aprender português na escola aos sete anos de idade. Com certeza o nosso país só fala português na escola, no trabalho, nesses lugares assim mais formais, mas em casa e ás vezes até no trabalho mesmo se fala é o crioulo.

Adelaide: Foi difícil aprender português?

Jus: Não, porque o crioulo é um tipo de português, um português sem regra, então se tu já aprendeu falar o crioulo fica mais fácil aprender falar o português. Quando a gente vai a escola aprende primeiro a ler em crioulo e depois em português. Como algumas palavras são muito parecidas, falando em crioulo quem fala português dá pra entender alguma coisa e falando em português quem fala crioulo dá pra entender alguma coisa.

Adelaide: Qual palavra você achou mais fácil aprender em português?

Jus: Pois é, eu gosto de GLÓRIA A DEUS, BOM DIA...

Adelaide: E uma palavra que você achou difícil de aprender ou algum aspecto lingüístico que você tenha achado diferente?

Jus: Como o crioulo é muito parecido com o português não achei nenhuma palavra difícil, mas em crioulo a maioria das palavras tem acento mudo que às vezes ocorre uma junção tipo em “eu vou” dizemos em crioulo tudo junto “nabai”.

Adelaide: No Brasil colônia durante mais de duzentos anos se falava a língua geral que foi proibida em 1758 pelo Marques de Pombal e aos poucos foi desaparecendo. Que sentimentos desperta em vocês guineenses a permanência do crioulo até os dias de hoje como língua mais falada em seu pais?

Jus: É como se fosse a identidade de nosso povo,é motivo de orgulho. O crioulo foi uma língua inventada por nossos antepassados quando eles estavam passando por uma crise: a gente estava dependente de Portugal, então qualquer coisa que a gente precisava tinha de ir tratar diretamente com os portugueses. Dessa forma em Guiné Bissau nossos antepassados estavam muito bloqueados pra fazer qualquer coisa, então pra eles tentar fazer alguma coisa e não dar se a entender para português eles inventaram essa língua. Essa invenção de duas ou três pessoas foi se expandindo até se tornar uma língua, o criolo, o português mal falado. Mesmo quando a gente se reúne aqui no Brasil no Shopping ou no RU, a gente não fala português, fala a nossa língua e os brasileiros ficam olhando pra gente sem saber o que a gente tá falando (risos), mas isso é natural.

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